Locutor do programa Momento de Poesia da Rádio Cultura (AM 1460 KHz), programa cultural que levou música e poesia para a população de Lorena e região. O programação era levada ao ar todas as terças-feiras das 18:10h às 19:00h e estava inserido na programação Tubo de Ensaio

 

 

 

 

Erra uma vez

 

Nunca cometo o mesmo erro

duas vezes

já cometo duas três

quatro cinco seis

até esse erro aprender

que só o erro tem vez

 

Paulo Leminski

 

André Prado apresentando ao vivo o Programa Momento de Poesia

 

 

André Prado, Marcos Rocha (primo), Ademir e Felipe (Membros da Equipe da Rádio Cultura)

 

André Prado e o primo Marcos Rocha no Programa da Regina (Vida Saudável)

 

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O Albatroz

 

Às vezes, por prazer, os marinheiros

Pegam um albatroz, essa imensa ave dos mares,

Que acompanha, indolente parceiro de viagem,

O navio a singrar pelos golfos

 

Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,

O monarca do azul, canhestro e envergonhado,

Deixa pender, como um par de remos junto aos pés,

As asas de um branco imaculado.

 

Antes tão belo, como é feio caído em desgraça

Tão fraco e desajeitado, até mesmo cômico!

Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,

Outro, a coxear, imita o enfermo que outrora voava!

 

O Poeta é como o príncipe da altura

Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar;

Exilado no chão, em meio à multidão obscura,

As asas gigantes impedem-no de andar.

 

Edgar Allan Poe

 

 

Crônicas

Cronista do Jornal Ecos de Brasília-DF, divulgado no Brasil por Vânia Moreira Diniz e Fernando Oliveira em Portugal.

 

Para que todos compreendam a abrangência  do Jornal Ecos, Fernando Oliveira,  co-editor fez uma pesquisa laboriosa e profunda e enfatiza que  “os últimos números tiveram um crescimento significativo, não estamos longe de 5.000 páginas lidas por cada número, o que faz 10.000 leituras por mês, o Brasil continua a liderar com quase 80% das leituras, mas Portugal deu um grande pulo, em termos geográficos, penso que só dois países ainda não nos leram, "Congo e Togo”, países africanos, todo o resto geográfico  já leu o Jornalecos”. Por: Vânia Moreira Diniz  - Brasil.

 

Ao longo destes dois anos, cerca de 250.000 páginas foram lidas nos diversos pontos do globo, onde residem os amantes da Literatura Lusófona. Queremos crer, que; como, Fernão de Magalhães, o Jornal Ecos fez a sua viagem de circum-navegação, mas; esta é letrada. Pois alcançamos a quase totalidade das nações com assento estatuário na ONU. Ainda durante estes dois anos, publicamos cerca de 150 autores dos mais diversos quadrantes literários e geográficos. Os textos publicados no Jornal Ecos, dariam para 150 livros de 200 páginas, temos assim a impressão de publicar 75 livros por ano, esparsos no espaço que estes dois anos mediram. Por: Fernando Oliveira - Portugal.

 

 

 

 

 

 

 

Que falem os poetas

 

por Anna Verônica Mautner



O mundo está mais para a riqueza do arco-íris que os poetas procuram apreender, enquanto os racionalistas se satisfazem em nomear as sete cores que o compõem.

 


Há pouco tempo me dei conta de como são mal definidos certos sentimentos da nossa vivência diária dos quais falamos com naturalidade, Vergonha, constrangimento, remorso, ressentimento caem nesta categoria de muito usados e pouco explicados. Às vezes, até se procura defini-los, mas falta precisão de linguagem. Em textos científicos ou para-científicos, eles aparecem mais como adjetivos qualificativos do que como conceitos.
Que seja dada a palavras aos poetas para falar sobre o horror que nutrimos pelo ridículo ou pelo pânico que temos de perder a face. São eles, poetas, que mais pertos chegam de dar precisão ao que sentimos.


Por outro lado, culpa inveja, raiva, ira, transgressão, agressividade, amor, apego, ódio, felicidade são palavras / conceitos / expressões que recebem atenção, muitas vezes até de forma redundante. Cabe aos cientistas pesquisar, pensar, procurando limpar desse campo as ambivalências e ambigüidades. Já aos poetas cabe enaltecer a riqueza do mundo cuja aparência é muito mais rica do que o sim e o não, o branco e o preto, o certo e o errado. O mundo está mais para a riqueza do arco-íris que os poetas, mágicos da palavra, procuram aprender, enquanto os racionalistas se satisfazem em nomear as sete cores que o compõem. A vergonha, por exemplo, serpenteia, sem se fixar, em volta do ridículo. O ressentimento fica entre assumir-se responsável ou jogar para o mundo a responsabilidade do ocorrido. A ciência é mal instrumentada para lidar com toda a variedade de nuances que estão entre o agradável e o desagradável, entre o positivo e o negativo. Ela procura mais agrupar e categorizar do que apreender. E assim os sentimentos, apesar de estarem dentro do campo de interesse dessas ciências, curiosamente escorregam e acabam sendo passados por alto.


Eu também, tal qual meus colegas, não sei definir esses fatos da vida emocional. Quem sou eu para esclarecer questões que teimam em fugir da explicação? Cada vez que se tenta enquadra-las, o não é bem isto desponta para nos frustrar.


Diante disso, fico aqui a sentir vergonha, acanhamento, embaraço e constrangimento, pois, afinal, estou a me declarar incapaz. Por exemplo, o constrangimento não é escolha. Ele se impõe. Não é evitável. Quando obrigada a bancar uma mentira alheia, sinto um apertão, meus órgãos internos reagem, dando uma sensação ruim de mal-estar. Não é bem medo nem raiva, se bem que tem tudo isto misturado.


É difícil definir os fatos mentais que são confusos, imprevisíveis, inevitáveis. Posso tentar corrigir um erro, um crime ou um pecado. Posso pedir desculpas, perdão ou absolvição. Posso ainda pedir tempo para reparar o mal-feito. Aí há espaço de escolha, de livre arbítrio diante do ridículo, da vergonha, do remorso, do constrangimento, do ressentimento. O sentimento que surge quando não consigo enfrentar alguém que exige que eu minta  por exemplo, um patrão  não é pura raiva, puro medo. É constrangimento. E o que é constrangimento? Vou me arriscar a dizer que é o que sinto diante do fato de ser incapaz. É esse constrangimento que aparece quando não posso atender a pedidos insistentes. Posso ficar irada, até grosseira, para disfarçar a impotência. Quando não posso exercer meu livre-arbítrio, envergonho-me, constranjo-me, ressinto-me. Sempre que deparo com uma limitação, fico insegura, e gostaríamos que a incapacidade não transparecesse.
E eu, psicóloga que sou, e ainda socióloga, psicanalista, mãe, avó e sexagenária, venho aqui confessar que, muitas vezes, sou ridícula e disso me envergonho, isso me constrange. Encabulada, forço-me, aqui e agora, a encarar essa verdade. Eu também muitas vezes não consigo, não sei.
Ninguém está me culpando desses meus ridículos. Mas o perdão que os outros e eu mesma pudéssemos dar não aliviaria o constrangimento. Sentimentos ruins, negativos mesmo, podem receber a bênção da condenação ou absolvição. A sociedade prevê pagamento por crimes, penitência por pecados. Que dirá por erros e enganos! Ninguém nos absolve de nossas vergonhas, remorsos e gafes.


Calo-me, pois. Que seja dos poetas essa tarefa. Bem fala Fernando Pessoa em seu Poema em Linha Reta sobre o ridículo de tropeçar nas etiquetas. Ainda bem que os poetas existem para falar sobre a dor do ressentimento, sentimento horrível que nos faz culpar os outros. Isso não passa de mera aparência, pois, na verdade, está na dor que surge de não ter podido triunfar sobre algum outro, que vemos malvado. O ressentimento fala sempre da derrota. E eu, que não sou poeta, fico só com o constrangimento de calar diante da estreiteza da minha linguagem. Não poetejo. Minha ciência e eu cá ficamos constritos e acanhados, porque nos vemos obrigados a no esquivar de explicar tantos sentimentos, tão humanos. Como diria Silvio Santos, eu aqui  peço ajuda aos poetas.



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ANNA VERONICA MAUTHER, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e autora de Cotidiano nas Entrelinhas (Editora Agora). E-mail
: amautner@uol.com.br